POR QUE ERRAMOS? UMA
REELEITURA DA SEGURANÇA.
Não
vemos tudo o que observamos e mesmo assim, às vezes, “vemos” coisas que não
sabemos que vimos. Podemos julgar a honestidade ou a agradabilidade de uma
pessoa num piscar de olho, por exemplo, mas não conseguimos perceber a mudança
da identidade da pessoa carregando uma porta e passando na nossa frente. Nossas
decisões, mesmo acerca de temas importantes, como a vida e a morte, podem ser influenciadas
e sugestionadas não apenas pelas opções que nos são apresentados, mas também
pela maneira como são apresentadas. Somos tremendamente influenciados pelas
primeiras impressões, por mais que tentemos não ser, e temos uma forte aversão
a ler e seguir instruções, preferindo em vez disso, seguir nossa própria
instrução sobre como uma coisa pode ou deveria funcionar.
Entre
alguns psicólogos vem despontando o consenso de que o processo humano de tomada
e decisões operam em dois níveis – um mais racional, outro mais visceral -, e
os dois são constantemente alternados, como os faróis de um automóvel
revezando-se entre a luz alta e luz baixa. Muitos de nossos erros parecem
ocorrer quando estamos operando numa condição, mas achamos estar operando em
outra. Podemos pensar, por exemplo, que a nossa decisão de fazer um empréstimo
bancário foi ditada apenas por considerações de ordem financeira, mas depois
descobrimos ter sido influenciado pela fotografia de uma mulher bonita. Ou podemos
votar num político depois de passar horas acompanhando a cobertura da campanha
na TV, apenas para constatar que nossa opinião sobre a competência do candidato
foi formada num piscar de olhos.
Se
essa concepção estiver correta, ela ajuda a explicar por que certos tipos de
comportamentos propensos aos erros são tão difíceis de eliminar: achamos que
estamos sendo racionais quando na verdade estamos sendo viscerais, e
vice-versa. Quando cometemos de fato um erro, quase sempre acabamos culpando a
causa errada (“Por que fiz um empréstimo mesmo com uma taxa de juros tão alta?
Devo ter errado nos cálculos...”). Não aprendemos com a experiência, porque não
sabemos ao certo qual experiência pode nos ensinar alguma coisa.
Para
piorar ainda as coisas, estudos sobre crianças e adultos mostram que uma grande porcentagem de pessoas não
consegue tolerar erros. Isso vale particularmente para as que acreditam que a
inteligência é fixa e não pode mudar; a seus olhos, o erro é um reflexo de sua
inteligência, e assim, mas, como consequência, evitar o aprendizado a partir
dos erros. Para muitos de nós, essa tendência não melhora com a idade. Quanto
mais velhos vamos ficando, mais “tomamos posse” da verdade e achamos que sempre
temos razão, tanto em casa quanto no trabalho. E quando temos razão (e não nos
esqueçamos, isso acontece bastante), estamos inclinados a atribuir nossa
correção à nossa habilidade no que quer seja; mas quando estamos errados – aí
atribuímos o erro ao acaso.
Assim,
é preciso reconhecer e entender nossos erros e por o estamos fazendo. Quando
pararmos para pensar e orientarmos nossos colaboradores, com certeza os
acidentes no trabalho irão diminuir.
Maria Lúcia Batista Conrado Martins
Maria Lúcia Batista Conrado Martins