quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Refletindo sobre a ética

Um barco está levando uma carga importante de um porto a outro. No meio do trajeto, é surpreendido por uma tremenda tempestade. Parece que a única maneira de salvar o barco e a tripulação é jogar na água o carregamento, que além de importante é pesado. O capitão do navio se coloca seguinte problema: “Devo jogar a mercadoria ou me arriscar a enfrentar o temporal com ela no porão, esperando que o tempo melhore ou que a embarcação resista?” Sem dúvida, se ele jogar a carga será por preferir fazer isso a enfrentar o risco, mas seria injusto dizer simplesmente que ele quer jogá-la. O que o capitão quer de fato é chegar ao porto com seu barco, sua tripulação e sua mercadoria: isso é o que mais lhe convém. No entanto, dadas as circunstâncias tempestuosas, prefere salvar a sua vida e a da tripulação a salvar a carga por mais preciosa que seja. Mas ele não pode salvar escolher a tempestade, pois é uma coisa que lhe é imposta, que lhe acontece, queira ou não; por outro lado, o que ele pode escolher é o comportamento a ser adotado diante do perigo que ameaça. Se o capitão jogar o carregamento na água, irá fazê-lo porque quer... e ao mesmo tempo sem querer. Quer viver, salvar-se e salvar os homens que dependem dele, salvar seu barco; mas não quer ficar sem a carga e o lucro que ela representa, por isso irá desfazer-se dela muito a contragosto. Sem dúvida, preferiria não se ver diante da situação de precisar escolher entre a perda de seus bens e a perda da sua vida.  No entanto, não há outro remédio e é preciso decidir: ele escolherá o que mais, o que julga mais conveniente. Poderíamos dizer que ele é livre porque não há outro remédio, livre para optar em circunstâncias que não escolheu padecer.
Em geral, as pessoas não passam a vida só pensando no que convém ou não convém fazer. Felizmente, não costumamos ser tão acuados pela vida como o capitão do bendito navio. Se quisermos ser sinceros, deveremos reconhecer que realizamos a maioria dos nossos atos quase automaticamente, sem dar muitas voltas em torno do assunto. Basta lembrar o que você fez pela manhã.
Francamente, não creio que você tenha realizado cada um desses atos depois de angustiantes meditações: “Levanto ou não levanto? Tomo ou não tomo banho? Tomar ou não café da manhã, eis a questão!” A aflição do pobre capitão de navio que estava quase soçobrando, tentando decidir desta manhã. Você agiu de maneira quase instintiva, sem se colocar muitos problemas.  No fundo é o mais cômodo e o mais eficaz, não é mesmo? Às vezes estender-nos muito a respeito do que fazemos acaba por nos paralisar. É como ao andar: se a pessoa começa a olhar para os pés e dizer “agora o direito, depois o esquerdo, etc.”, o mais certo é que leve um tropeção ou acabe parando. Mas eu gostaria que agora, retrospectivamente, você se perguntasse o que não se perguntou pela manhã, ou seja: por que fiz o que fiz? Por que aquele gesto e não o contrário ou talvez outro qualquer?


Maria Lúcia  Batista Conrado Martins



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